O refluxo ácido acontece quando o ácido que normalmente é produzido no estômago reflui para dentro do esófago.
Este processo é globalmente normal e fisiológico e a maioria dos episódios de refluxo são breves e não provocam sintomas de relevo.
Contudo, algumas pessoas com doença do refluxo gastro-esofágico apresentam sintomas mais intensos que interferem na sua qualidade de vida.
É uma doença muito comum, afetando cerca de 10-20% da população ocidental.
Os sintomas mais frequentes são a azia (sensação de queimor no peito, especialmente após ingestão de determinados alimentos como café, chocolate, álcool, chá, comidas gordurosas, bebidas com gás, refeições volumosas, etc.), regurgitação (de alimentos ou de ácido para a boca) e disfagia (dificuldade em engolir).
Apenas cerca de 10-20% das pessoas com sintomas de doença de refluxo gastro-esofágico procuram assistência médica!
A venda “livre” nas farmácias dos protetores gástricos veio ainda aumentar este número, o que pode ser prejudicial uma vez que os sintomas são “mascarados”, podendo-se negligenciar situações potencialmente graves.
Apesar de se tratar de uma doença globalmente benigna, há doentes que necessitam de investigação adicional (habitualmente por endoscopia), destacando-se os doentes com sintomas de doença do refluxo gastro-esofágico e dificuldade ou dor ao engolir, perda de peso, anemia, vómito com sangue, mais de 55 anos, sintomas frequentes e/ou que não melhoram com tratamento médico e sintomas de refluxo com anos de evolução (> 12 anos).
As consequências podem ser várias e as mais frequentes são: esofagite de refluxo (feridas no final do esófago), Esófago de Barrett, estenoses esofágicas (“apertos” no esófago) e cancro (adenocarcinoma) do esófago.
O Esófago de Barrett é uma metaplasia (substituição de um tecido por outro) no esófago que habitualmente ocorre em consequência de vários anos de refluxo. Parece ser uma defesa do próprio organismo (as células novas são “mais resistentes”) mas estas células, sendo diferentes do habitual, têm potencial para se transformar em células malignas.
O Esófago de Barrett ocorre em cerca de 10% das pessoas com sintomas de refluxo com anos de evolução e, por si só, não provoca qualquer sintoma específico.
Por ser uma doença pré-maligna, o seu diagnóstico provoca muita ansiedade e muitas vezes a informação que as pessoas vêm na internet e noutras fontes sobrestima o real risco desta doença.
Não quer dizer que vá seguramente ter cancro do esófago! Apenas significa que tem que ser vigiado e que se lhe for diagnosticada esta doença deve procurar um Gastrenterologista.
Quanto ao cancro do esófago, o adenocarcinoma (relacionado com o refluxo), está a aumentar exponencialmente nos países ocidentais, sendo já o cancro do esófago mais frequente nalguns países.
É um tumor com uma mortalidade extremamente elevada, que mesmo quando diagnosticado precocemente.
Assim é de enorme importância o controlo dos fatores de risco e a vigilância das condições pré-malignas como o Esófago de Barrett.
É então fundamental que deixe de fumar, que controle a doença do refluxo gastro-esofágico através de medicação (quando necessário) e de medidas gerais anti-refluxo como evitar certos alimentos (álcool, café, chocolate, chá, bebidas com gás, alimentos ácidos como os citrinos, comida picante, comida com elevado teor de gordura, etc.), efetuar refeições pouco volumosas, perder peso se tiver excesso de peso, elevar a cabeceira da cama e evitar comer e/ou beber até cerca de 1 – 2 horas antes de adormecer.
Pode descobrir mais sobre este tema vendo a minha participação televisiva neste link.