Protectores Gástricos – Mitos e Realidades

Os protectores gástricos são uma classe de medicamentos denominados inibidores da bomba de protões (IBP). A sua principal função é a redução da produção do ácido pelo estômago e são utilizados numa grande variedade de doenças do foro gastrointestinal globalmente com muito sucesso.

Os disponíveis no mercado português são o omeprazol, o pantoprazol, o lansoprazol, o rabeprazol e o esomeprazol e a maioria deles até já são de venda livre.

Recentemente têm aparecido na comunicação social várias notícias sobre potenciais efeitos laterais decorrentes da toma a longo prazo desta medicação que tem preocupado doentes e profissionais de saúde, pelo que é necessário o seu esclarecimento e correcto enquadramento.

O INFARMED publicou também recentemente uma lista de potenciais efeitos laterais da toma desta medicação, fazendo com que muita gente deixasse de a tomar, muitas vezes não consultando o seu médico para saber se o podia ou devia fazer.

Os protectores gástricos são fármacos recentes?

Nem pensar!

O primeiro IBP, o omeprazol, foi inicialmente comercializado em 1989 e tornou-se rapidamente como um dos principais medicamentos no tratamento de múltiplas patologias gastrointestinais.

São fármacos que já utilizamos há muitos anos e que conhecemos a sua forma de funcionamento em detalhe!

São medicamentos totalmente desprovidos de efeitos laterais?

Nenhum medicamento é totalmente desprovido de efeitos laterais!

Todos os medicamentos podem ter potenciais efeitos laterais, mas na maioria dos casos eles são raros, clinicamente pouco significativos e os benefícios da medicação ultrapassam largamente os potenciais riscos.

Os protectores gástricos não são excepção.

Apesar de alguns efeitos laterais (na sua grande maioria “benignos”) são medicamentos seguros e em que o beneficio terapêutico quando utilizado conscienciosamente ultrapassa largamente eventuais riscos.

Em que situações estes medicamentos são mais utilizados?

Os IBPs têm uma vasta lista de utilizações em medicina, sendo que mais usualmente são utilizados no tratamento do refluxo gastro-esofágico e das suas complicações, no tratamento de úlceras gástricas e duodenais e como protector em caso de toma de certos medicamentos como os anti-inflamatórios.

Sendo fármacos seguros, devem ser tomados sempre que se tome muita medicação?

Aí reside o principal problema na toma dos protectores gástricos! Nem todas as pessoas o devem tomar, muito menos porque “tomam muita medicação”.

A utilização de medicação em pessoas que não precisam de a tomar é sempre deletéria, perdendo-se o efeito benéfico do medicamento. Dessa forma é importante a criteriosa prescrição destes medicamentos, que devem apenas ser prescritos se e quando necessários.

Estes medicamentos provovam demência?

À luz do que conhecemos neste momento, não! Apesar de alguns estudos terem alertado para esta possível relação, ela ainda está muito longe de ser provada uma vez que a demência tem múltiplos factores de risco reconhecidos e é muito improvável que os IBPs sejam um factor de risco para o desenvolvimento de demência.

Nunca este receio deve ser motivo para parar com a medicação, especialmente antes de falar com o seu médico.

Novamente, o importante é perceber se deve tomar estes medicamentos e durante quanto tempo. Se precisar de os tomar, este receio não deve ser motivo para parar a medicação uma vez que mesmo existindo, o risco de desenvolver demência será sempre inferior a 1%.

Porque é que há tanta informação sobre os efeitos laterais desta
medicação e sobre os riscos de a tomar a longo prazo?

O mais importante parece-me ser a forma como estas preocupações foram apresentadas à sociedade, com tónica nos problemas que os medicamentos podem causar e não tentando informar a população sobre a forma como se deve ou não tomar esta medicação.

As preocupações económicas decorrentes destas situações nunca se devem sobrepor à saúde dos portugueses. O ponto-chave é que quem não necessita de tomar estes protectores gástricos não o deve fazer, mas quem os tem que tomar pelas doenças que apresenta, não os deve suspender pelo medo dos mínimos, raros e improváveis efeitos laterais, mesmo com tomas a longo prazo.

É indispensável que discuta a suspensão ou não destes medicamentos com o seu médico antes de o fazer. É importante educar em saúde, para que as pessoas que precisam efectivamente de fazer a medicação não a suspendam por medos infundados.


Pode ficar a saber mais sobre este tema na minha participação no programa da RTP Bom Dia Portugal, aqui.