O mês de abril é o mês de sensibilização para o cancro esofágico. Há vários tipos de cancro esofágico, sendo os mais frequentes o carcinoma epidermoide (mais frequente na parte superior do esófago) e o adenocarcinoma (mais frequente na parte inferior do mesmo).
O cancro do esófago é o sétimo cancro mais frequente a nível mundial e o sexto em termos de mortalidade. Ao contrário de outros cancros mais frequentes, o cancro esofágico espera-se que aumente cerca de 140% em 2025, tornando-se um verdadeiro problema de saúde pública.
O tipo mais frequente de cancro do esófago em todo o mundo ainda é o carcinoma epidermoide, mas nos países desenvolvidos este tipo de cancro foi já ultrapassado pelo adenocarcinoma por motivos que em seguida exploraremos.
Os fatores de risco são iguais para todos os tipos de cancro do esófago?
Efetivamente não são e isso pode explicar a alteração nos últimos anos no tipo de cancro do esófago que encontramos nos países desenvolvidos.
Enquanto os fatores de risco mais importantes para carcinoma epidermoide são o consumo de tabaco, o consumo de álcool e a história pessoal de neoplasias do pescoço e face, para o adenocarcinoma os fatores de risco mais importantes são a obesidade e a doença de refluxo gastroesofágico e o Esófago de Barrett.
Em conjunto partilham alguns fatores de risco como ingestão de carnes vermelhas, alimentos ricos em gordura ou processados.
São fatores protetores de ambos a ingestão de fibras, fruta fresca e vegetais.
Em termos epidemiológicos, como estamos em Portugal?
Genericamente, o cancro do esófago é mais frequente no homem que na mulher numa proporção de 4:2, sendo que o risco ao longo da vida desta neoplasia é de 0,8 % para os homens e 0,3% para as mulheres.
A mortalidade ajustada à idade é de aproximadamente 5,4/100 mil habitantes/ ano, no homem e 1,1/100 mil habitantes/ano, na mulher.
Quanto à idade, é mais frequente depois da quinta década, sendo que a idade mais incidente é aproximadamente 65 anos de idade.
A taxa de mortalidade por cancro do esófago, em Portugal (3,2%) está próxima da taxa de mortalidade por esta neoplasia na Europa Ocidental (3,1%), sendo que a taxa de mortalidade da Europa é de 9,5%.
O que é isso do Esófago de Barrett e devo estar preocupado se me tiver sido diagnosticada essa patologia?
O Esófago de Barrett é uma alteração do revestimento interno do esófago como consequência da doença de refluxo gastroesofágico.
É o que chamamos uma condição pré-maligna, mas a probabilidade de se vir a ter adenocarcinoma do esófago numa pessoa com Esófago de Barrett sem displasia é de 0.12 a 0.4% ao ano.
Assim, apesar de necessitar de vigilância (por endoscopia), a probabilidade maior é sempre que nunca venha a ter cancro do esófago. Acresce a este facto que cerca de 80% dos adenocarcinomas esofágicos são diagnosticados em pessoas sem Esófago de Barrett conhecido.
Os sintomas são fáceis de identificar / estas neoplasias são habitualmente diagnosticadas precocemente?
Infelizmente, não...
Os sintomas, na sua maioria dos casos, são muito tardios. 30% dos casos são diagnosticados quando já há metástases ganglionares e em 40% dos casos estas neoplasias são já diagnosticadas quando já há metástases à distância.
Os sintomas mais frequentes são a disfagia (dificuldade em engolir), perda de peso inexplicada e sintomas de refluxo que não melhoram com a medicação (especialmente depois dos 50 anos).
Estes tumores são hereditários?
Apesar de haver uma associação familiar do Esófago de Barrett e adenocarcinoma, não podemos falar propriamente em hereditariedade na enorme maioria dos casos. Há, isso sim, vários genes já identificados como fatores de risco que podem ser mais frequentes dentro duma família, aumentando o risco de se desenvolver cancro do esófago.
A cirurgia é o único tratamento para estes tumores?
Classicamente a cirurgia era considerada a única modalidade curativa para estes tipos de tumor e ainda o é em casos mais avançados.
Contudo, se efetuarmos uma prevenção e um rastreio (em populações de alto risco) podemos identificar lesões pré-malignas ou malignas mas muito iniciais onde temos outras modalidades terapêuticas muito menos invasivas como a ablação por radiofrequência e a dissecção submucosa (técnicas endoscópicas), entre outras com crescente utilização no nosso país.
O que podemos fazer para prevenir estes cancros?
É muito importante estar atento a sinais de alarme como a disfagia e a perda de peso inexplicada. O aparecimento de azia/refluxo a partir dos 50 anos também deve sempre motivar investigação.
Há várias terapêuticas médicas que parecem diminuir o risco de cancro do esófago como a toma de IBPs (“protetores gástricos”) nas pessoas com doença do refluxo persistente e/ou Esófago de Barrett e a toma de anti-inflamatórios não-esteroides (como a aspirina) ou estatinas (medicação para o colesterol). Contudo, a toma destes fármacos deve ser analisada caso a caso para pesar riscos e benefícios.
Como mensagens importantes, a melhor maneira de prevenir o cancro do esófago é a alteração dos estilos de vida:
- Cessação tabágica
- Consumo moderado de álcool
- Consumo moderado de carnes vermelhas, bebidas (como o chá) muito quentes, alimentos ricos em gorduras ou processados (enchidos, etc.)
- Preferir uma alimentação rica em fibras, vegetais e fruta fresca
Pode também aprofundar este tema observando a minha participação televisiva sobre o mesmo, clicando aqui.