Cada vez mais pessoas optam por efectuar os seus exames endoscópicos (endoscopia digestiva alta e colonoscopia) sob sedação (anestesia) para obterem um maior grau de conforto na realização dos mesmos, mas ainda existem muitas dúvidas sobre este assunto, que tentaremos desmistificar.
A sedação faz mal?
Em Portugal, na maioria dos casos, a sedação para exames endoscópicos é efectuada por um Anestesista com um fármaco chamado propofol. É um fármaco de administração endovenosa (implica uma punção venosa e a colocação de um cateter) que tem um perfil de segurança excelente, desde que correctamente utilizado.
O fármaco é eliminado do nosso corpo em 12-24 horas, sem deixar vestígios ou sequelas a longo prazo.
Logo, a sedação não faz mal ao nosso organismo, devendo contudo ser realizada por profissionais competentes nessa área.
A sedação tem muitos riscos e por isso é melhor fazer os exames endoscópicos “acordados”?
Isto também não é verdade! Naturalmente que tudo na vida tem os seus riscos e todos os procedimentos médicos têm uma natural e inevitável taxa de eventuais complicações.
Contudo, apesar de existirem riscos associados à sedação (sendo os mais frequentes a descida do oxigénio do sangue e das tensões e muito raramente outros mais graves como paragem respiratória), o perfil da segurança das sedações é excelente, conferindo conforto ao doente e qualidade na realização do exames.
Como estou a dormir é mais provável ocorrer uma perfuração intestinal?
Há uma ideia generalizada que o facto de se efectuar os exames endoscópicos sob sedação aumenta o risco de perfurações, mas tal não corresponde à realidade.
Todos os estudos efectuados à data confirmam que desde que os exames endoscópicos sejam efectuados por um profissional experiente em endoscopia digestiva, o facto da pessoa estar sedada não aumenta significativamente o número de perfurações (que já desde si são muito raras!).
O facto da pessoa estar acordade e sinalizar dor não impede a ocorrência rara duma perfuração intestinal.
O medo da perfuração intestinal não deve ser motivo para não efectuar o exame endoscópico ou para não o efectuar sob sedação.
Deve, contudo, informar-se com o seu Gastrenterologista sobre os riscos dos exames endoscópicos e conhecer quais as vantagens e desvantagens dos exames que lhe são propostos.
A anestesia provoca falta de memória e não deve ser realizada muitas vezes?
Novamente este conceito é falso. Os exames endoscópicos são na sua generalidade exames relativamente curtos e a dose do fármaco administrada é apenas a suficiente para poder conferir conforto ao doente e qualidade na realização do exame.
Não provoca falhas de memória a curto, médio e longo prazo, apesar de ter um efeito amnésico peri-procedimento, ou seja, é natural que não se lembre da preparação imediatamente antes do exame e de acordar com a sensação que não realizou o exame.
Pode ser efectuada as vezes necessárias, no espaço temporal adequado à sua patologia, não havendo efeito cumulativo da anestesia.
Como fiz o exame sob sedação, devo ir acompanhado e não devo conduzir durante 12-24 horas?
Esta é uma das “limitações” de se efectuar o exame sob sedação. Uma vez que existe um efeito residual da medicação durante 12-24 horas (mesmo que não a sinta) pode ter um diminuição dos reflexos e, assim, é de grande importância que vá acompanhado e que não conduza nenhum veículo durante 12-24 horas após o exame.
Em resumo…
Globalmente, efectuar os exames sob sedação é seguro e não acresce significativamente aos riscos do mesmo.
Confere, isso sim, mais conforto ao doente e qualidade na realização do exame à/ao Gastrenterologista.
Contudo, deve sempre informar-se sobre a melhor opção para si junto do seu médico de família ou Gastrenterologista de forma a tomar uma opção o mais informada possível.