A Diverticulose do cólon

Dos Mitos às realidades (com algumas dúvidas pelo meio…)

O que são os “divertículos”?

Os divertículos ou, mais corretamente, a diverticulose do cólon, são pequenas “bolsas” que se projetam para fora do intestino, formando pequenas “hérnias” que podem ser visualizadas durante uma colonoscopia, mas também em alguns métodos de imagens como as TACs.

Na realidade são, na sua grande maioria, pseudo-divertículos, uma vez que apenas as camadas mais superficiais do cólon são “projetadas” para fora, provavelmente por uma fraqueza na camada muscular do intestino.

Divertículo

Eles são mais frequentes no cólon esquerdo na população ocidental e mais frequentes no cólon direito na população oriental, provavelmente por questões genéticas (e eventualmente alimentares).

A sua prevalência parece estar a aumentar em todo o mundo, trazendo com isso implicações importantes para a saúde pública. São, atualmente, o diagnóstico mais frequente nas colonoscopias de rastreio.

1. Todas as pessoas têm divertículos

Falso

Divertículo

Nem todas as pessoas têm divertículos, mas a probabilidade de os ter aumenta com a idade. Assim, é incomum nas pessoas com < 40 anos (cerca de 5%), tornando-se progressivamente mais frequentes com o aumento da idade (65% aos 65 anos e 70% aos 80 anos).

2. Todos as pessoas com divertículos vão ter complicações

Falso

Na realidade a maioria das pessoas com divertículos nunca chega a ter qualquer doença associada aos divertículos. Cerca de 20% das pessoas com divertículos desenvolvem sintomas (passando-se a chamar doença diverticular) das quais cerca de 15% desenvolverá complicações associadas a esta doente como a diverticulite aguda (inflamação dos divertículos) ou a hemorragia diverticular (esta menos frequente, atingindo cerca de 5-10% das pessoas com divertículos.

Estudos recentes apontam para uma percentagem de complicações ainda menor, na ordem dos 4%.

3. Ninguém sabe a causa de se desenvolver divertículos

Verdadeiro

Apesar de já conhecermos alguns fatores que predispõem as pessoas para ter divertículos (como por exemplo a idade), os motivos e mecanismos pelos quais acontecem ainda não estão totalmente definidos.

Sabemos hoje que há fatores associados à motilidade intestinal, à flora microbiana intestinal, genéticos e inflamatórios locais que levam a que algumas pessoas venham a ter divertículos, mas como se desenvolvem especificamente continua a ser objeto de estudo.

4. A ingestão de fibras, contudo, sabemos que é importante para
prevenir a formação dos divertículos

Aparentemento falso…

A teoria das fibras alimentares data de 1971 em que um investigador britânico (Burkitt) em missão em África reparou que a população africana tinha menos divertículos e menos complicações associadas a estes e que isso se deveria à dieta rica em fibras.

Desde então que se assume que as fibras alimentares, por estimularem um correto funcionamento do tubo digestivo, podiam ajudar a prevenir o aparecimento dos divertículos e das complicações associadas.

Contudo, estudos mais recentes vieram desmentir essa relação e parece que a ingestão diária de fibras não parece ser assim tão importante para esta doente.

Contudo é de se lembrar que a ingestão de fibra alimentar tem outros benefícios pelo que se deve sempre encorajar a ingestão adequada de água e fibras.

5. Se tiver uma diverticulite aguda vou ter que ser operado/a de
certeza

Falso

Aliás, a grande maioria dos casos é ligeiro e o tratamento é médico/suporte.

Classicamente estes episódios eram tratados com uma combinação de antibióticos (ciprofloxacina/metronidazol) para diminuir a infeção associada, mas estudos recentes têm demonstrado que uma grande percentagem de pessoas não necessita de antibióticos, havendo uma resolução espontânea da infeção.

Contudo, há casos em que há perfuração do intestino ou formação de abcessos em que a cirurgia urgente pode ser necessária, mas isto ocorre numa minoria dos casos.

6. Depois de ter tido a primeira diverticulite, mais vale ser operado porque de certeza vou ter outra

Falso

Classicamente está descrito que 7-45% dos doentes com um primeiro episódio de diverticulite vão desenvolver novo episódio, o que geralmente acontece no espaço de um ano após o primeiro.

A percentagem correta estará provavelmente mais próxima dos 7% e a gravidade do segundo episódio tende a ser a mesma do primeiro. Ou seja, se a primeira diverticulite foi tratada com antibióticos, é provável que o segundo episódio também o seja.

O tratamento cirúrgico é cada vez mais conservador e protelado, pelo menos, até ao quarto episódio de diverticulite, desde que se trate de diverticulites não complicadas.

7. Depois da primeira diverticulite há medicação para reduzir a probabilidade de ter outra.

Aparentemente verdadeiro

Anteriormente pensava-se que uma ingestão adequada de água e fibras alimentares eram indispensáveis para reduzir a probabilidade de um segundo episódio de diverticulite, mas sabemos hoje que isso não é
verdade.

Contudo, recentemente, vários estudos com alguns medicamentos (messalazina, rifaximina, probióticos) têm demonstrado serem úteis na prevenção de novos episódios de diverticulite.

Estudos recentes também demonstraram que níveis baixos de vitamina D se associam com probabilidade aumentada de novos episódios de diverticulite. Apesar de não sabermos se dando suplementação diminuímos esta probabilidade, é algo a ser investigado.

Também se provou recentemente que a toma de anti-inflamatórios não esteroides como o Brufen, Nimed, etc. (excluindo a aspirina de baixa dose) aumentam a probabilidade de complicações associadas aos divertículos, pelo que devem ser evitados.

8. Todas as pessoas depois de terem um episódio de diverticulite devem fazer uma colonoscopia porque o risco de cancro do cólon está aumentado.

Depende…

Estudos iniciais apontavam para uma percentagem maior de cancros colorretais após um episódio de diverticulite (cerca de 8%) e daí se criou esta recomendação.

Contudo, o que sabemos hoje é que o risco parece ser exatamente o mesmo da restante população, não devendo por si só alterar o programa de rastreio de cancro do cólon e reto.

Simplificando: se o doente tiver efetuado uma colonoscopia recentemente de boa qualidade, não é por ter tido uma diverticulite que deve repetir a colonoscopia.

9. Fazer colonoscopias depois das diverticulites é muito perigoso e aumenta muito o risco de perfuração.

Falso

Apesar de ser sensato esperar pelo menos 6 semanas após o episódio
de diverticulite para se realizar uma colonoscopia estas, na grande
maioria dos casos, não aumentam os riscos da colonoscopia.

10. Como tenho divertículos não posso comer frutos com sementes, sementes ou frutos secos.

Totalmente falso

Este é provavelmente o maior mito associado aos divertículos e não tem
qualquer fundamente científico.

Pensava-se que as diverticulites começavam pela oclusão dos divertículos por sementes, mas nunca nenhum gastrenterologista ou cirurgião no mundo viu isto acontecer. Mais: vários estudos nas últimas décadas demonstraram que a ocorrência de diverticulite não aumenta com o tipo ou a quantidade de fibras ingeridas, nomeadamente sementes, frutos secos ou pipocas!

Divertículite