Esofagite eosinofílica

O que é a esofagite eosinofílica?

A esofagite eosinofílica é uma doença crónica, mediada por sistemas imunes ao nível do esófago, caracterizada clinicamente por sintomas relacionados com disfunção do esófago e histologicamente por inflamação com predomínio de eosinófilos.
Simplificando, é uma reação imune do nosso corpo (uma espécie de alergia) a alguns alimentos, mediada por um tipo de glóbulos brancos (os eosinófilos) que pode provocar vários sintomas e alterações a nível do esófago.

A esofagite eosinofílica é uma alergia alimentar?

A esofagite eosinofílica é um tipo muito específico de alergia alimentar, confinada exclusivamente ao esófago. Mas sabemos que os doentes com esta doença têm maior probabilidade de desenvolver alergias alimentares “clássicas” e mesmo anafilaxia a alguns alimentos.

É uma doença “recente”?

É uma doença de crescente reconhecimento. Os primeiros casos descritos datam das décadas de 60 e 70, mas inicialmente nem foram descritos como sendo esofagite eosinofílica. Esta doença foi finalmente descrita apenas em 1990 e desde então temos aumentado muito o conhecimento sobre ela, mas ainda tempos muitas questões em aberto.

Aspectos endoscópicos possíveis na Esofagite Eosinofílica

É uma doença que está a aumentar de incidência?

Tudo aponta que sim. Apesar de haver algum viés pelo facto de agora se diagnosticar mais porque os médicos estão mais atentos a esta patologia, todos os estudos têm sido consistentes em afirmar que a incidência da doença está a aumentar, assim como outras doenças do foro alérgico.

Atualmente a incidência desta doença é de cerca de 1 a 20 novos casos por 100.000 habitantes e a prevalência entre 13 a 49 casos por 100.000 habitantes, aproximadamente os mesmos números das doenças inflamatórias do intestino como a Colite Ulcerosa e a Doença de Crohn.

Neste momento é a segunda doença esofágica mais frequente, apenas ultrapassada pela Doença do Refluxo Gastroesofágico.

Quem é mais afetado por esta doença?

De longe as pessoas mais afetadas são crianças e jovens adultos do sexo masculino, especialmente os que apresentam alguma história de atopia (alergias) prévia como a asma, o eczema atópico ou a rinite alérgica (presentes em cerca de 60 % dos casos).

É uma doença fácil de diagnosticar?

Sim e não! Os critérios de diagnóstico são relativamente simples de aplicar, mas para se diagnosticar esta doença temos de pensar nela e fazer os exames necessários para a diagnosticar corretamente, sendo que a realização de uma endoscopia digestiva alta com biopsias do esófago é fundamental.

Critérios de diagnóstico para a Esofagite eosinofílico

É então necessário fazer sempre uma endoscopia digestiva alta quando suspeitamos desta doença?

Sim!

Os critérios atuais obrigam que seja efetuada uma contagem dos eosinófilos nas biopsias do esófago e isso só se consegue através de
endoscopia. Há alguns métodos em estudo para tentar prescindir a endoscopia, mas ainda são largamente experimentais.

Quais são os sintomas mais comuns?

O sintoma mais comum é a disfagia (dificuldade na deglutição) de alimentos sólidos.

Outros sintomas menos frequentes são o impacto alimentar (comida presa no esófago), dor torácica e alguns doentes apresentam sintomas em comum com a doença do refluxo gastroesofágico como azia e regurgitação alimentar.

Sendo uma espécie de alergia alimentar, não necessita de tratamento desde que se evite esse alimento?

Infelizmente não é assim tão simples…

A esofagite eosinofílica é uma doença progressiva, associada a sintomas persistentes se não tratada e com possibilidade de complicações sérias como estenoses (apertos) no esófago.

É uma doença também com impacto na vida social, impedindo os portadores desta doença duma vida social “ativa” pelas limitações que a doença impõe.

Quais são então as opções terapêuticas?

Este é um campo em evolução permanente e ainda não sabemos bem qual é o melhor caminho a seguir. As opções terapêuticas são as seguintes:

  1. Tratamento com Inibidores das Bombas dos Protões (os “protetores gástricos”): chamada Esofagite eosinofílica responsiva aos IBPs. Sabemos que cerca de 50% dos doentes com esofagite eosinofílica melhoram em todos os parâmetros com a toma destes medicamentos. Contudo ainda não sabemos a dose ideal, o tempo que deve ser tomado ou quais os doentes que vão responder a esta terapêutica.
  2. Tratamento com corticoides tópicos (as “bombas” para a asma): o tratamento com corticoides tópicos (deglutidos e não inalados como na asma) induz a remissão em cerca de 70-90% dos doentes e devem ser utilizados em todos os doentes com sintomas graves. Contudo, à semelhança dos protetores gástricos, não sabemos durante quanto tempo devemos utilizar esta medicação.
  3. Tratamento através de dieta: há várias modalidades nutricionais no tratamento desta doença, nomeadamente a remoção empírica dos alimentos mais comumente implicados nesta doença ou a remoção de alimentos baseados em testes específicos de alergias alimentares. Este tipo de tratamento tem cerca de 70-90% de sucesso terapêutico, sendo que atualmente a dieta empírica preferida nos adultos é uma dieta de eliminação de 4 alimentos (leite de vaca, trigo, ovos e legumes), tendo resultados positivos em cerca de 50-70% dos casos. Mas se por um lado parece apelativo o tratamento desta doença através da alimentação é preciso ver que esta dieta é para toda a vida, não é fácil de cumprir e induz limitações sociais.

A escolha do tratamento deve ser sempre tomada em conjunto entre o médico e o doente, sendo que este último tem de compreender os benefícios e desvantagens de cada abordagem.

Modalidades de tratamento na Esofagite Eosinofílica
Tipos de dietas de eliminação na Esofagite Eosinofílica

É uma doença hereditária?

É uma doença com claro componente genético, com aumento da probabilidade de ter a doença se tiver um familiar em 1º grau com a mesma.

Está associada à Doença Celíaca?

Aparentemente não. Apesar de inicialmente se ter pensado que podiam ter uma base comum, são doenças distintas e ter uma não aumenta a probabilidade de ter outra.

Aumenta a probabilidade de cancro do esófago?

Até à data, parece que não há aumento do cancro do esófago nos doentes com esofagite eosinofílica.

Há tratamentos novos para quem não responde a estas medidas?

Infelizmente todos os fármacos inovadores que foram testados nesta doença não apresentaram resultados suficientes para a sua comercialização.

Há papel para alguns imunomoduladores como a azatioprina, mas apenas em casos muito selecionados.

Os testes de intolerâncias alimentares que se fazem nos laboratórios de análises podem ser importantes no tratamento desta doença?

Não!

E em boa verdade não são clinicamente úteis em nenhuma circunstância. Salvo algumas exceções (lactose e frutose) não há nenhum teste que nos permita conhecer as intolerâncias alimentares das pessoas. Aqueles testes medem as IgGs específicas aos alimentos que apenas significa que o nosso corpo teve contacto com os mesmos e não se é intolerante.


E intolerâncias alimentares e alergias alimentares são duas entidades muito distintas.